sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Protagonismo dos blogs muda contexto da campanha eleitoral na mídia


A polêmica sobre o 3º Programa de Defesa dos Direitos Humanos mostra que um novo processo político está ganhando corpo na sociedade brasileira diante das debilidades, indefinições e descrédito que afetam algumas instituições do Estado brasileiro.

O debate está passando ao largo de instituições como o Congresso nacional cujo descrédito abriu espaço político para a participação de novos atores como os weblogs, twitters e fóruns de discussão pela internet.

A discussão virtual está ganhando mais relevância diante do aumento do número de leitores de jornais que passam a ver a imprensa não como um facilitador ou mediador do debate, mas como parte interessada.

A opinião pública demonstra nítidos sinais de orfandade em matéria de espaços políticos convencionais, porque os partidos políticos foram transformados em agências de empregos públicos distribuídos por critérios eleitorais.



O debate sobre o Programa de Defesa dos Direitos Humanos é apenas a ponta de um iceberg que começa a ganhar corpo e cuja face visível é uma radicalização crescente dos segmentos mais conservadores, ao constatar que as instituições formais já não funcionam mais como escudo protetor de suas propostas.

O mundo da blogosfera mostra outra face. Nela os desiludidos da mídia convencional criam o seu próprio canal de publicação de idéias numa inédita convivência, nem sempre pacífica, com os blogs conservadores.

A polêmica, que pode ser acompanhada por meio de simples buscas sobre os principais temas em debate no Google ou no Twitter, mostra o surgimento da internet como um novo ambiente político onde os participantes são ao mesmo tempo atores e público. É esta dupla funcionalidade que gera tanta participação, como pode ser visto até aqui no Observatório, nos comentários postados por leitores.



O debate sobre o ato falho de Boris Casoy, por exemplo, foi muito mais intenso na blogosfera do que na mídia convencional. É claro que a imprensa se deixou levar pelo corporativismo para minimizar o episódio, mas por outro lado, o patrulhamento blogueiro foi implacável com o infeliz comentário do apresentador do telejornal da Band.



Esta tendência à polarização deve ganhar novo combustível na medida em que a campanha eleitoral ganhar mais intensidade. Tudo indica que teremos dois espaços para o debate político:

1) O convencional, onde os segmentos mais conservadores devem predominar, porque é o que lhes resulta mais familiar e influenciável;

2) A Web é o outro espaço para interatividade política, onde é nítida uma maior movimentação dos setores mais liberais, e principalmente dos mais jovens.

Esta segmentação de espaços políticos é inédita em nossa história eleitoral já que pela primeira vez setores que nunca tiveram acesso direto à mídia tem agora a sua disposição uma plataforma barata para publicar idéias e propostas.

É possível prever que a grande batalha por corações e mentes nas próximas eleições presidenciais será travada na internet porque também os políticos convencionais pretendem usá-la em beneficio próprio.



Mas ela terá características bem diferentes das ocorridas na mídia tradicional em pleitos anteriores. O grande diferencial é a impossibilidade de monitorá-la, dado o seu caráter descentralizado e horizontal. Assim fica difícil dizer que tal candidato ou tal partido tem maioria das preferências na Web porque será impossível medir tendências como acontece com as pesquisas de opinião, tipo IBOPE ou DataFolha.



A fragmentação e dispersão dos atores políticos na Web, em especial na blogosfera, é uma porta aberta à radicalização, o que é um fator preocupante embora quase inevitável. Faz parte da alfabetização política na Web, assim como aconteceu no passado com os comentários agressivos e xenófobos em weblogs.



O importante é verificar que as regras do jogo político na Web não são as mesmas que vigoram no debate via jornais, rádios e televisão. Nestes, o público é um espectador, enquanto na Web, mesmo sendo ela privilégio de uma minoria de brasileiros, o cidadão comum é um protagonista, em termos de mídia. Isto faz muita diferença.

Carlos Castilho. Visitem:


HTTP://alfabetizadospoliticos.blogspot.com



4 comentários:

  1. Excelente postagem.
    Na Web todos tem vez para comentar e acaba incentivando outros a "botar a boca no trombone"
    Que este meio de comunicação possa fazer a diferença

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  2. Acho fantástico!
    Mas somente com o tempo isso poderá a vir ser benéfico.
    Por enquanto gera mais discussões sem fundamentos e indecisões.
    Mas com o tempo essas indecisões serão superadas e a web com seus blogs darão os padrões políticos e fotalecerão a democracia. Isso é o mais importante.

    Um forte abraço!

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  3. O caso do Boris casoy vem confirmar a tese mencionada pela primeira vez por Ciro Gomes. Já ouviu falar da "Elite branca"? Então, há grupos poderosos dentro da mídia que trabalham para eles mesmos. Pobre do cidadão comum. Mas, as coisa estão mudando através da opinião esclarecedora da Blogosfera. Como fez você.
    Abraço.

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  4. A mais pura verdade, na minha opinião. É a eutanásia da chamada grande mídia.

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