quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Mau capitalismo



O capitalismo, depois que corre sozinho na raia, tornou-se pai e mãe dos banqueiros, dos donos da indústria automobilística, de todos os que combatiam o intervencionismo estatal e que nesta crise econômica mundial parece que chegante ao fim tiveram seus negócios e empresas na UTI e estão praticamente salvos graças exatamente ao Estado. Não apenas ao Estado regulador, institucionalizador, mas ao seu dinheiro, à salvação pela cirurgia e pela terapia dos seus recursos monetários. Se não fossem os setecentos bilhões de dólares injetados pelo governo norte-americano a Chrisler e a General Motors teriam sucumbido, seriam hoje empresas completamente falidas. Assim também famosos bancos dos Estados Unidos. Em resumo, a economia mais poderosa e mais carcomida do planeta. No Brasil, embora o presidente Lula tenha falado que a crise para nós não passava de uma marolinha, o governo teve que se virar. Arranjou bilhões para as montadoras, colocou grande parte das reservas do Banco Central para utilização na política creditícia das instituições financeiras, alarmou-se com os quase dois milhões de desempregos na indústria e no comércio, viu-se compelido a demitir cinco mil empregados da Embraer, sentiu o baque da queda das exportações, viu o seu PIB, que foi de 5% Em 2008, cair para zero em 2009, assistiu a grande declínio da sua industria manufatureira, sentiu a sua arrecadação diminuir consideravelmente, teve de reduzir a menos da metade as obras do PAC, enfim passou por quase um ano a lidar com uma economia em maré baixa.

Como a produção de automóveis, de setembro do ano passado até abril deste ano, caiu assustadoramente e os pátios delas e das concessionárias estavam abarrotados de veículos sem compradores, o governo federal imaginou uma fórmula que veio a dar certo: reduziu o IPI, ampliou e facilitou o crédito, isto é, as formas de financiamento (embora permitindo juros bastante elevados. Já que os banqueiros terão sempre que ser beneficiados, nada importando que o povo se enrede em dívidas cujos desdobramentos poderão constitujir-se em grave questão social). Na semana passada vi uma empregada domestica, cuja renda mensal pouco passa de mil reais, adquirir mediante financiamento um automóvel usado cuja parte financiada – oito mil reais – ao final de sessenta meses ficará em dezessete mil. Ela deu dois mil de entrada. Ao final dos sessenta meses o carro não valerá mais que quatro ou cinco mil reais. Veja o leitor como também a população pobre está sendo induzida a ter automóvel: pobreza infeliz arrastada pelo poder de sugestão de um capitalismo impiedoso. (Capitalismo, como se viu na última semana, que não tem a mínima preocupação com o aquecimento global, não quer fazer nada interromper o seu curso fatal).

Que consequência terá a crescente e interminável superpopulação de automóveis? A questão envolve as neuroses urbanas, os homicídios do automóvel, a perda dos espaços das cidades, a poluição (por mais que se anunciem tecnologias redutoras), um rosário imenso de problemas. Afinal, nada mais curial que todo excesso é um mal, alguns conduzem a calamidades. O de automóveis fatalmente será uma destas, talvez a não muito longo prazo.

Mas como é matéria polêmica – há os apologistas dessa superprodução sem fim – valho-me hoje da redução de impostos que salvou nossa indústria automobilística, o que veio a significar mais de 80% da recuperação industrial brasileira (menos de 20% são relativos aos demais setores), para um registro que me parece dos mais importantes. Recentes levantamentos demonstraram que 47% dos preços dos remédios no Brasil são consequentes da incidência de tributos. Um medicamento que custa R$ 44,00 poderá passar a custar R$ 25,00 se forem reduzidos impostos perfeitamente possíveis de o serem. Ouvido a respeito, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, respondeu simplesmente:

– O governo não cogita reduzir impostos na área de medicamentos.
Por: Eurico Barbosa.
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2 comentários:

  1. Muito bom esse seu texto, em partes, se não fosse o capitalismo, tudo poderia ser melhor! Muito bom o seu blog... Parabéns

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  2. Putz adorei o texto pena que li tarde demais!!^.^

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