domingo, 8 de novembro de 2009

Por que as pessoas estão se endividando?


Uma das grandes preocupações da sociedade atual é o endividamento pessoal e familiar. Os principais vilões são os empréstimos consignados, financiamentos de casas e veículos, cartões de crédito, cheque especial, dinheiro emprestado com familiares e outras tantas tentações que fazem parte do cotidiano das pessoas que estão se endividando e não conseguem se livrar do vício do consumo

A palavra endividamento faz parte da vida de milhões de brasileiros. Segundo o Banco Central (BC), o nível de endividamento das famílias brasileiras no início deste ano, chegou a comprometer 34,8% da sua renda anual. Há dois anos, o valor dos empréstimos contraídos era de 26,7% da renda familiar. Conforme o BC, este aumento no número de endividamento nos últimos anos estaria associado ao desenvolvimento do mercado de crédito.

As facilidades na hora da compra são uma armadilha para os consumistas. As lojas oferecem parcelamentos de até 36 vezes e os juros crescem com as vantagens oferecidas. Conforme o economista, doutor em sociologia política e professor da Universidade de Passo Fundo, Ginez Campos, atualmente estamos vivenciando um momento da economia brasileira de estímulo ao consumo. O controle do processo inflacionário (estabilidade dos preços), o aumento do poder aquisitivo real da renda pessoal, a queda da taxa de juros e a ampliação da oferta de crédito (empréstimos e financiamentos) são fatores que associados as estratégias publicitárias da mídia conduzem e induzem as pessoas a consumirem mais. “Esta onda consumista está associada a falsa idéia de que é possível "antecipar os nossos sonhos e desejos de consumo". Os empréstimos e financiamentos viraram a fórmula mágica de se viabilizar o consumo antecipadamente. O resultado desta cultura consumista associada a falta de planejamento das finanças pessoais acaba sendo infelizmente a triste realidade do endividamento pessoal ou familiar”, explicou o economista.

- Aposentados e adolescentes são os mais endividados

Estas duas classes estariam mais vulneráveis ao endividamento. Os aposentados estão se endividando principalmente, devido aos empréstimos consignados. Os familiares estariam se aproveitando deste benefício dos aposentados. “Infelizmente, estas dívidas de forma geral, estão relacionadas a manutenção financeira de filhos ou netos”, explicou Campos.

Uma outra categoria que estaria sentindo as conseqüências do endividamento são os jovens, especialmente os adolescentes, influenciados e pressionados pela pressão consumista da publicidade midiática. “O desejo de ter tudo e atender as necessidades de prazer imediato, reconhecimento pessoal, aceitação no grupo, bem como o modismo são fatores a estimular o consumismo entre os jovens conduzindo-os facilmente ao endividamento próprio ou dos pais”, contou o economista.

Entre os homens e mulheres não há uma diferenciação para quem consome mais. Conforme Campos, a tese de que as mulheres seriam mais consumistas que os homens é falsa. “Muitos homens estão endividados. O que todos tem em comum é a falta de disciplina financeira, que só é possível através da organização e planejamento financeiro”, disse o economista e também sociólogo.

- Pais precisam dizer “não” para os filhos

“Tenho aprendido na condição de pai, que amar os filhos não significa dar tudo o que eles querem. É preciso ensinar que existe um orçamento familiar e que os seus desejos precisam estar adequados a capacidade financeira dos pais”, falou Campos. Esta citação explica qual deve ser a atitude dos pais em relação ao consumo dos filhos. No entanto, esta tarefa de dizer “não”, se torna complicado na prática. “Muitos pais se endividam porque não sabem dizer “não”. Mas, isso é importante para a educação dos filhos. Eles precisam aprender a vivenciar a situação de frustração quanto ao desejo de consumo”, falou o economista.

- Endividamento compromete casamento

Em muitas situações, o endividamento pode gerar conflitos emocionais entre familiares, envolvendo desde o relacionamento entre o casal até a relação com os filhos. Uma pesquisa feita pelo banco americano Citibank constatou que atualmente, 60% dos casamentos que acabam em divórcio são em decorrência dos conflitos financeiros. “Muitos casais não conseguem desenvolver uma "intimidade financeira" por meio de um diálogo franco e aberto. O planejamento financeiro de forma partilhada entre o casal é uma excelente estratégia para se desenvolver a inteligência financeira do casal e dos filhos.”, falou Campos.



“As pessoas de forma geral se endividam comprando coisas de que não necessitam para geralmente impressionar as pessoas as quais não gostam”.

“Tenho sido convidado por muitas empresas para desenvolver um trabalho de sensibilização de seus colaboradores (funcionários) sobre a importância da gestão das finanças pessoais. Em minhas palestras tenho destacado a afirmação acima como sendo uma das razões sociológicas a explicar o comportamento consumista nos dias atuais. A cultura competitiva das relações humanas nos dias de hoje, caracterizada pelo sucesso refletido na conquista de bens materiais conduzem a este tipo de comportamento social contraditório e aparentemente insano. Além das emoções e que são inimigas terríveis do sucesso financeiro pessoal e familiar (vaidade, ostentação e impulso consumista) eu acrescentaria o sentimento da inveja. Portanto, o endividamento pessoal muitas vezes ocorre em função do desejo de mostrar para alguém (geralmente as pessoas as quais não gostamos) que nós também podemos obter sucesso a partir das conquistas que fazemos em termos de bens materiais. Na condição de cientista social tenho concluído que a pior forma de pobreza não é a material, mas a pobreza de espírito que se reflete nas ações e condutas humanas. O consumismo descontrolado é reflexo da pobreza espiritual da alma humana em tempos de pós-modernidade”. (Ginez Campos)

- Facilidades na hora da compra: Benefício ou prejuízo?

Para Campos, as facilidades oferecidas em termos de pagamento parcelado e financiamentos são problemas para aqueles que não sabem controlar as suas finanças pessoais. “Pode ser um prejuízo quando as decisões de consumo não seguem uma racionalidade financeira que deve ser adequada a renda pessoal ou familiar considerando o planejamento estabelecido na montagem do orçamento familiar”, disse o professor.

- Como evitar o endividamento

O economista Ginez Campos aconselha os consumistas a conter as emoções. Conforme ele, existem emoções humanas que são inimigas do sucesso financeiro pessoal e familiar como: a vaidade, a ostentação e o impulso. A maioria das decisões das pessoas, relacionadas ao consumo seriam emocionais e não racionais. Além de conter a emoção, um dos segredos também seria desenvolver um planejamento financeiro do orçamento pessoal e familiar, para controlar as receitas e despesas, desenvolvendo uma disciplina financeira.

- Estou endividado e agora?

O jeito é evitar consumir. Iniciar um rígido controle das finanças pessoais, cortar despesas excedentes e buscar, em alguns casos, novas fontes de renda para ampliar as receitas. Dependendo do nível do endividamento seria conveniente buscar orientação profissional, especializado em finanças pessoais para sair do endividamento.

- Planejamento Financeiro

Esta é uma ferramenta de controle das finanças pessoais. Pode ser um caderninho de anotações ou um software computacional de finanças (como por exemplo, uma planilha no Excel). Um levantamento das receitas e despesas pessoais ou familiares deverá ser feito de forma detalhada, separando as despesas fixas das variáveis e efetuar o monitoramento permanente. “É preciso, por meio da montagem do orçamento familiar, estabelecer de forma conjunta às prioridades de consumo da família”, disse Campos.

Educação Financeira

A Escola Menino Deus em Passo Fundo é uma das primeiras escolas a implantar a “Educação Financeira nas Escolas” no currículo da instituição. A educação financeira está inserida nas diferentes disciplinas da educação infantil, ensino fundamental e médio. Os alunos aprendem na prática a organizar e planejar o seu orçamento. A idéia do projeto foi do professor, economista e pai de um dos alunos, Ginez Campos, que provocou a direção da história com este tema. O projeto é pioneiro na região. O objetivo é criar uma nova mentalidade comportamental em relação ao uso dos recursos financeiros pessoais ou familiares ensinando como gastar, poupar e investir os seus recursos de forma organizada e planejada “É uma proposta que visa desenvolver a inteligência financeira das crianças, adolescentes e jovens, que começa com o ensino fundamental a vai até o ensino médio”, comentou Campos.

Para a diretora da Escola, Márcia Muccini, são instâncias de trabalho, que atingem as crianças e os adolescentes, alcançando patamares de profundidade entre as relações de mudanças de conceito do comportamento cultural e do por que as pessoas acabam fazendo consumos indevidos devido a ansiedade. “Nós começamos a trabalhar a educação financeira, desde a educação infantil, porque ela traz melhorias de qualidade de vida para as pessoas. Ela não pode funcionar só na cabeça de quem dirige a família, porque todos os integrantes interferem na produção e consumo de bens e na utilização de captação e gasto de recursos financeiros”, explicou a diretora.

A escola trabalha a educação financeira inserindo principalmente a questão do consumo. Por exemplo: a turma da quarta série organizou uma tabela de consumo de energia elétrica da casa de cada um deles. Eles estão observando os fatores e compreendendo o porquê que o consumo da energia elétrica aumentou ou diminuiu durante os meses. Aprendem sobre o consumo racional e desperdício. A educação financeira está inserida em disciplinas como a biologia. O professor trabalhou a questão das células do corpo comparando com a produção de uma fábrica. Esta questão envolve o que o nosso organismo aproveita e do que é lixo para ele.

Para o professor de matemática da escola, Laércio Villa, o trabalho está voltado para a questão do poupar. “Primeiro se coloca a conscientização da importância de economizar, para que com isso possa garantir o seu futuro financeiro”, disse o professor.

- Alunos empresários

Karina Silveira da Silva, do 2º ano do ensino médio é a presidente da mini empresa formada por diretores de finanças, de marketing, de recursos humanos e por uma diretora de produção. O projeto chamado “Minha empresa”, em parceria com a Acisa e com a organização Junior Achievement. Os alunos montaram uma empresa , escolheram o nome, o produto e fizeram um planejamento orçamentário. Eles escolheram fabricar bolsas e produzem o próprio produto. “É através da venda de ações que conseguimos o dinheiro inicial para investir no produto. O lucro é dividido entre os acionistas. Os participantes ganham um salário representativo. Pagamos aluguel e impostos”, explicou Karina.

Para a integrante do projeto, Marina Luft, também do 2º ano, a educação financeira é importante para organizar as finanças deles. Para ela os pais não inserem os filhos na hora de administrar o orçamento. Uma outra questão levantada pela aluna são as várias opções que o mercado oferece para o público adolescente e que se tornam uma tentação. “A publicidade está bastante voltada para a nossa idade. Se não tivermos o controle do nosso orçamento vamos nos endividar fácil”, disse a aluna.

Aposentada controla as contas

A aposentada Maria Nelci da Rosa, de 67 anos ganha cerca de um salário mimo por mês e faz questão de anotar todas as contas. Sempre gasta conforme o seu salário. Ela não tem problema com o consumo, porque sabe que o dinheiro é curto. Divide o salário para as compras da feira, para gastos com vestimenta, com comida e aluguel. “O negócio é parcelar no máximo em três vezes para não pagar muito juro e não se endividar”, disse a aposentada.

Os passo-fundenses sabem lidar com o dinheiro?

Adalberto Palma – Aposentado

“Felizmente eu sei. Eu não faço planejamento, mas compro aquilo que está dentro do meu orçamento. Procuro comprar sempre à vista”.

Neusa Daluz – Zeladora

“Eu controlo bastante meu orçamento. Se eu vejo que posso comprar eu compro. A dica é pensar antes de gastar o dinheiro”.

Graciema Cechetti – Servente

“Acho difícil lidar com o dinheiro nos dias de hoje. Fazemos uma conta aqui ou ali e depois não conseguimos pagar. Os gastos são maiores. Antigamente qualquer roupa servia para o gosto dos filhos, agora eles só querem saber de marcas”.

Mariele da Silva – Técnica em Sistema de Informação

“Não sei lidar com o dinheiro. Estou tendo que aprender. Tudo é muito caro, sempre temos conta á pagar. As lojas oferecem condições, mas os juros são altos. Acabamos conquistando mais dívidas”.

Um texto de Natália Fávero - DM. Passo Fundo. RS.

6 comentários:

  1. Acredito que o endividamento tenha várias origens: existe uma grande oferta de moeda, com o incentivo de taxas de juros muito altas. E esta mesma taxa de juros tem o outro lado: o dos que captam moeda. Isto faz com que crie uma bola de neve que rola montanha abaixo e na qual todos serão soterrados. Os que captam não têm como pagar e os que aplicam não têm como receber.
    Onde isto vai acabar? Talvez numa crise financeira como a que ocorreu recentemente em todo o mundo.
    Precisamos tomar cuidado.

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  2. Oi, William, tudo bem?

    Após a leitura, letra por letra, do seu texto, a parte da Biologia foi que me chamou mais a atenção, apesar de eu ser professor da disciplina, rsrs, mas foi apenas, digamos assim, um pequeno susto no sentido de eu não ter imaginado como a Biologia poderia ser usada na interação com os problemas de dívidas.

    Vejo em jornais, revistas e TVs inúmeras orientações aos consumidores quanto ao controle de gastos. Não consigo entender, embora o seu texto citou as causas, por que muitas pessoas se endividam sem necessidade.

    Eu, como profissional de ensino e leitor desenfreado, fico muito sem chão quando muitos adolescentes gastam toda a mesada, e essa gravidade surge da falta de orientação dos pais - se um filho ou filha é gastador(a) em potencial é porque recebeu essa educação sombria - e de má influência de amigos e colegas de escola.

    Eu me lembro, há mais de 10 anos, de que supermercados não eram abertos aos domingos devido a não existência de cartões de crédito de e infinitas facilidades de pagamento.

    Todas as escolas deveriam voltar com a disciplina Técnicas Comerciais que já educaria uma boa parte do bom senso das pessoas consumistas. O poder da palavra NÃO exerce grandes efeitos no controle do dinheiro.

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  3. excelente postagem.
    é bom que seja divulgada. fá-lo-ei.

    abçs

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  4. William!
    Que aposentados se endividem até podemos entender, afinal o custo de vida está altíssimo e viver de aposentadoria não está dando não!
    Agora, que a família use a facilidade de crédito do aposentado, isso sim é de se pensar!
    Pais que não dão limites aos filhos, isso também é de se pensar!
    É como eu digo: se não tenho dinheiro para pagar minhas dívidas, vou pedir empréstimo para que? Se não tenho para as dívidas, não vou encontrar dinheiro para pagar os empréstimos também!

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  5. Eu considero que a educação financeira precisa ser ensinada tambem na escola. Os pais ensinam e as escolas ajudam.

    A minha vida se tornou uma tremenda confusão quando me separei. Com isso, posso entender como aposentados ficam com suas pensões comprometidas.

    Os jovens, realmente, podem se tornar consumistas por compulsão e falta de maturidade responsável.

    A vida está cara demais. Como faço compras em mercado eu fico pasma em perceber que em tão pouco tempo, por exemplo, um pao-de-forma que poderia ser comprado por R$ 1,00 não se compra por menos de R$ 4,00. E é fácil lembrar de outros itens!

    Sds

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  6. Elogio da temporada.

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