quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vida ou Morte ?

Sou daqueles que acreditam que são as forças opostas que impulsionam a roda d`água do universo. Para mim, continuar vivo é manter verde a árvore do apaixonar-se e ter sempre uma brasa de indignação faiscando. Em outras palavras, cultivar o amor e a repulsa para não usar a palavra ódio, forte demais para nosso imaginário.

Quem não se apaixona e nem sente indignação está morto, ou é medíocre, que é uma forma de estar morto sem passar pelos ritos necessários. O medíocre, fingindo conformidade com o curso das coisas, engana a si mesmo e aos outros. É fácil descobri-lo. É aquele sujeito que, mesmo ante a guerra, proclama o inconsistente mote "faz parte". Como se fôssemos condenados a um destino inexorável, ditado por algum exótico poder extra-história.

Além do medíocre, existe também outro tipo de morto-vivo. Chamarei de alienado. É aquele que, embora tenha paixão e indignação, é por causa ou personagem alheios, tomados como seus por falta de coragem, ou para comungar da aparente grandeza dos arautos. O tipo alienado sustenta seu discurso no discurso dos outros. "Você viu o que o fulano falou?" "A Revista X defende..." "A moça do telejornal anunciou..." Como se o nome de alguém ou de algo, por si só, avalizasse verdades absolutas para todos os cérebros.

Estou farto de ouvir falarem ainda da guerra no Iraque, e de todas as outras. Ante uma guerra, é muito fácil distinguir os homens vivos. Há muitos por aí apaixonados e outros tantos indignados. Há, também, os medíocres, embora em menor número. A guerra é uma situação limite em que o amor e a indignação podem ser admirados na transparência de suas contraditórias forças. Na guerra, a vida é a juíza da história. Ao menos, deviam deixá-la no discernimento de todas as crises. Porque a vida é a fundadora de todas as escolhas, condição sine qua non para todo argumento. Sob seu olhar, como quando ingerimos um contraste daqueles para radiografias viscerais, podemos enxergar os homens de grandes causas e diferenciá-los dos medíocres e alienados. Nenhum argumento justificará a morte, pois ela inviabiliza qualquer possibilidade de reavaliação dos rumos escolhidos.

A guerra / morte me causa indignação. A paz / vida me apaixona. Não digam que fiz uma opção por algum povo, por alguma personagem ou por um sistema político-econômico. Minha declaração também não é uma mostra de altruísmo, nem de grandeza de espírito. Sou é muito egoísta. Só estou defendendo aqui minha vida, com idéias, unhas e dentes, sendo "unhas e dentes" apenas força de expressão.

Quero amanhã de manhã, e nas manhãs que se seguirem, poder estar vivo para apaixonar-me pelas estrelas e indignar-me com as péssimas músicas que fazem sucesso, coisas triviais. Como sei que vou morrer de qualquer jeito, pretendo seja por causa natural. Causa natural eu chamo aquela que nos incendeia em profunda indignação, mas contra a qual não há nada a ser feito pelos homens. O que não é, absolutamente, o caso das guerras.

Opine sobre o assunto aqui ou no diHitt.

2 comentários:

  1. Se vc diz-se egoísta, então somos dois q vemos longe: bem aqi dentro, q é a maior distância q o homem pode caminhar para conhecer "algo", conhecer a si mesmo. Somos mesmo é egoístas. Ficamos com alguém, antes de ser por amor, é por ver q estaremos seguros ao lado dela.

    E outra coisa: a guerra nesse mundo instável, só vai ser o sinal de q a vida continua normal. Se é um mundo instável, num Universo cíclico, qual não ser á o instrumento da renovação, da limpeza do terreno, do sangue como adubo do terreno da vida?? Qual não será o instrumento da ânsia por uma paz e decisão definitivas q acabe com as dúvidas e restabeleça a ordem, senão a instabilidade, a Guerra, o acerto de conta das almas, Geburah-Ogum-Marte-Ares???

    Não defendo a agressão e a guerra pura e simples, mas não posso deixar de dizer q os conflitos, de qual ordem forem, é uma das mais poderosas demonstrações da auto-regulação (e apenas uma delas) da Natureza.

    Abçs!!

    ResponderExcluir
  2. realmente, é meio esquisito não se apaixonar nem sentir indignação...
    abs

    ResponderExcluir