sábado, 5 de setembro de 2009

O PATRIOTA

Soares sempre foi patriota. Desde criancinha. Na Semana da Pátria costumava enfeitar sua bicicleta com tiras verde-amarelas nos raios das rodas de frente e de trás. Punha, também, duas bandeirinhas do Brasil junto as laterais do guidom. Tinha um vinil de músicas marciais que rodava a valer. Sabia todas as letras dos hinos correspondentes a Semana da Pátria e ao dia da Bandeira. Soares sempre entendeu que Pátria tinha tudo a ver com os militares. Saudosista, referia que tempos bons eram os tempos em que a gente marchava, no 7 de setembro. Tempos bons eram quando as disciplinas de Moral e Cívica e OSPB eram obrigatórias.
Os bons tempos de caserna, a hierarquia respeitada, a observância aos símbolos pátrios - agora, tudo passado. Soares ajudou a construir o Brasil que hoje aí está. Mas, olha para os lados e não enxerga a sua turma. Onde estão os seus companheiros. Por que existe tal desmande no nosso país? Por que ninguém respeita ninguém?
Soares talvez devesse saber que os militares tiveram o poder em suas mãos circunstancialmente em 1889 com Deodoro e Floriano. Depois, com Getúlio, em apoio. Depois, em 1932, em oposição ao mesmo Getúlio, no movimento tenentista. Depois, em 1964 com Castelo Branco que queria o restabelecimento da ordem democrática em um ano. E não teve sua vontade respeitada e teve que aguentar o ranço de Costa e Silva que, por ser mais antigo, achava que o lugar de presidente da república deveria ser seu. Os militares sempre entenderam que deveriam voltar para a caserna, isto é, os verdadeiros militares, ordeiros e valorosos. Circunstancialmente, viveram o poder, alguns anos desde a instalação da república.
Muita gente não pensa assim. Muita gente associa militar à truculência, à tortura. Militar é somente militar. Militar não é herói e nem bandido. O verdadeiro militar segue hierarquia e está sujeito a punições. Vai para a cadeia, poderá ser excluído a bem da disciplina. Neste ato, tem suas insígnias retiradas e a tropa vira as costas para ele. A ordem estabelecida não tolera transgressões. Ser expulso das Forças Armadas significa desonra. A tropa, toda ela, desdenha-o. Ele é deletado, fica marcado. Antes, servidor da pátria é, agora, um pária.
Os tempos mudaram. A sociedade civil voltou, como deveria ser, ao poder. As pessoas passaram a entender que respeitar os símbolos pátrios era aderir aos militares. E aderir aos militares era apoiar a ditadura. E apoiar a ditadura era ir contra essa beleza do Brasil que aí está. Não queremos nem ditadura e nem esse país que aí está.
Soares, como verdadeiro militar, garboso na farda e zeloso aos princípios éticos, nunca quis país de ditadura. Só queria um país ordeiro, que se orgulhasse de si mesmo. Queria um país que tivesse mecanismos de deletar os que desonram, os que transgridem. Queria um país que justificasse a grandeza de seu espaço territorial, gigante pela própria natureza.
Soares olha para os lados e não vê mais os seus companheiros. Mas, quando olha para os jornais vê toda a desfaçatez e a tolerância aos que deveriam ter a sociedade de costas para eles. Vê que os transgressores podem até chegar à presidência de nosso país. Soares não vê disciplina, não vê respeito. Só vê desonra que não é mais desonra. Vê que o certo é o errado e que o errado é que é certo.
Então, no 7 de setembro, assovia, solitariamente, a canção do soldado e esconde, constrangido, as fotos de sua bicicleta enfeitada que simbolizava o país que deveria chegar ao seu destino de Amor, como princípio; Ordem, como regra e Progresso, como fim. Mas, ao contrário, chegou a um lugar de difícil definição, talvez, anarquia, talvez liberalidade, talvez, resiliência, talvez qualquer coisa. Qualquer coisa da qual não temos orgulho algum.

Dr.Prof. Jorge Anunciação.

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