quarta-feira, 29 de julho de 2009

O cinema imita os telejornais ou os telejornais imitam o cinema?

Um dos gêneros que mais cresce no cinema mundial é o horror. Esse tipo de histórias tem origem na literatura gótica do século 18. Entre os autores que marcaram o início dessa corrente literária estão os ingleses Horace Walpole, com o conto "O Castelo de Otrantto" (1764); e Mattew Gregory Lewis, com "O Monge" (1796). Depois, já no século 19, passamos por romancistas como Mary Shelley, que trabalhava prioritariamente com temas assustadores. Graças a essa escritora britânica, conhecemos uma das histórias de horror mais famosas de todos os tempos: "Frankeinstein" (escrita em 1818). A partir daí, surgiram inúmeros escritores desse gênero e não demorou muito para que o horror ingressasse no cinema.

O cinema de horror possui diversas vertentes: filmes de monstros, fantasmas, horror psicológico, etc. Muitas escolas cinematográficas adotaram as histórias de terror, como o expressionismo alemão com seus monstros em cenários obscuros; o horror psicológico americano, com seus psicopatas assassinando adolescentes; a ficção científica, com seus alienígenas devoradores de homens. Entretanto, uma corrente bastante atual do gênero horror merece ser analisada: os splatter films, ou torture porn, ou gore films.

O termo splatter cinema foi cunhado pelo diretor americano George A. Romero, que usou essa expressão para descrever o seu filme "Dawn of the Dead" (1978). As principais características dos filmes desse segmento do horror são a exibição de mutilações, torturas, assassinatos lentos... Enfim, tudo aquilo que revela (ou condiciona) a fragilidade do corpo humano. Normalmente, esses filmes possuem um enredo difuso, sem grandes pretensões narrativas. As histórias são simples e objetivas, e os personagens são tão rasos quanto o enredo. Por outro lado, deve-se reconhecer o uso bem sucedido da linguagem audiovisual nas cenas de violência dos torture porn. Nessas sequências, veem-se montagens eficazes: contrastes entre imagem do assassino e da vítima, intercaladas em ritmo frenético; enquadramentos que potencializam o impacto das imagens de carnificina; sons dissonantes que enfatizam ainda mais a angústia das cenas. Aliás, sangue é o que na faltam nessas produções. Os efeitos especiais devem muito aos filmes gore, pois esses retratam os ferimentos no corpo humano da forma mais realista possível. Contudo, isso não é novidade, pois no teatro do século 10 já se procurava retratar a violência como na vida real. Exemplo disso é o trabalho do dramaturgo francês Grand Guignol, que em 1908 já havia realizado cenas realistas de carnificina e tortura.

Contudo, a pergunta relevante é: por que as pessoas se interessam em assistir cenas de carnificina? O que motiva alguém a ir ao cinema para assistir filmes que despertam angústia, medo, terror? Essas são perguntas que ainda não possuem explicações contundentes. Mas, o certo é que configuram uma tendência que vem se agravando no nosso tempo. A prova disso é a série "Jogos Mortais" - exemplo atual de torture porn - que já tem data de lançamento da sexta edição. Ora, poucos filmes tiveram tantos volumes lançados com tamanho êxito. E, se é um sucesso comercial, logo possui uma legião de interessados.

Para terminar, repasso uma observação do jornalista Carlos Primat . Ele, que estuda há anos os filmes de horror, destacou que a procura por imagens de violência explícita vai além do splatter cinema. O próprio jornalismo aborda as notícias sobre violência de uma forma sensacionalista, enfática, explorando esses fatos ad nauseam. Da mesma forma, as cidades convivem com a miséria - outra forma de violência extrema - de forma passiva. Portanto, evoco agora uma pergunta antiga: a vida imita a arte ou a arte imita a vida? Ou, no caso dos filmes gore: o cinema de horror imita os telejornais ou os telejornais imitam o cinema de horror?

Um comentário:

  1. Oi, William!

    Infelizmente, o jornalismo policial factual não procura fazer uma análise do fato para que o leitor entenda o pq do aumento da violência. Noticiar o crime pelo crime não acrescenta em nada na vida de ninguém. Gostei dessa comparação que vc fez com o cinema. Não sei qual o fascínio que a violência exerce nas pessoas - tanto nos filmes, qunato nas matérias jornalísticas, mas enquanto houver público, elas serão feitas.

    Abraço

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