quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A angústia e o desinteresse de viver



O sentimento de angústia insistente remete muitos ao desinteresse de viver, ao medo do porvir, ao desânimo em vista dos desafios do destino, enfim, a uma ausência de atitude que recebeu da psiquiatria a temível terminologia: depressão. A rigor a patologia resulta da ausência de esperança e da incerteza em relação ao futuro. Sintomas esses matrizes de fraqueza neuro-físico-mental, favorecendo a invasão oportunista da enfermidade, por carência da restauração da energia mantenedora da saúde, sobrevindo as asperezas da apatia como dispositivo abismal do qual para se desvencilhar requerem hercúleos esforços de auto-educação.

A conduta mental, quando cultivamos a irritabilidade, o ódio, o ciúme, o rancor, impregna o corpo físico e o SNC (sistema nervoso central), com forças vibratórias infectadas que bloqueiam áreas por onde se espalha a energia vital, abrindo campo para a instalação dos múltiplos estados patológicos, em razão da proliferação de agentes patogênicos (microorganismos de matrizes psíquicas) degenerativos que se instalam. Por isso, a disciplina mental surge como pedra angular, sustentando o edifício das lutas rotineiras sob o influxo da resignação indispensável diante dos embates vitais para nosso crescimento moral e espiritual.

A depressão está fincada primordialmente no psicossoma (perispirito) e, a rigor, não tem fulcros no corpo físico. O conflito do enfermo remonta a causas passadas, provavelmente remotas, com reverberação no presente. Os Benfeitores Espirituais explicam que nas mortes prematuras traumáticas (acidentes - suicídios) em pessoa com grande reserva de fluido vital, impõe fortes impressões e impactos vibratórios na complexa estrutura psicossomática, formando no espírito um clichê mental robusto do momento do trespasse.(desencarnação). Na reencarnação subseqüente o amortecimento biológico do corpo físico, não é suficiente, para neutralizar os flashs dos derradeiros momentos da vida anterior.

As torturas sofridas durante longos períodos nas regiões de penumbra do além (umbral), poderiam criar raízes de tormentos no perispírito que, alcançando o cérebro físico na reencarnação seguinte, facultariam o surgimento das fobias múltiplas, depressão e tantas outras síndromes de angústias íntimas. Cabe recordar que a o processo terapêutico advém da força espiritual do prisioneiro da depressão, quando canalizada de maneira correta, sobre os alicerces da educação do pensamento e da disciplina salutar dos hábitos.

Jesus, o Psicoterapeuta por excelência, nos enviou como legado um dos maiores tratados de psicologia da História: a Codificação Espírita, cujos preceitos traz à memória humana a certeza de que apesar dos açoites aparentemente destruidores do destino, o homem precisa conservar-se de pé, denodadamente, marchando, firme, ao encontro dos supremos objetivos da vida, arrostando os obstáculos como um instrumental necessário que Deus envia às suas criaturas. É um distúrbio associado à ocorrência da alteração de substâncias como a serotonina, noradrenalina.

O uso dos antidepressivos estabelece a harmonia química cerebral, melhorando o humor do paciente, no entanto, cuidam simplesmente do efeito, pois os medicamentos não curam a depressão em suas intrínsecas causas; apenas restabelecem o trânsito das mensagens neuroniais, melhorando o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema nervoso central). Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma.
Prof. Jorge Hessen.

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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Uma época de muitos contrastes Socias


Ultimamente, o que se percebe é o despropósito entre a compreensão que muita gente tem do luxo (diz-se chique) e os seus comportamentos pra lá de contraditórios. Com a razoável possibilidade de se obter dinheiro, o velho sonho de ser alguém importante (sobretudo para si mesmo) abriu precedentes nunca vistos. Mais do que antes, hoje é possível frequentar lugares caros e sofisticados, fazer viagens de tirar o fôlego e promover festas além da sua razão de ser. Porém, há um limite para o que o dinheiro pode comprar, pois é possível constatar, inequivocamente, a miséria mental e a consequente pobreza no jeito de se comportar em tais circunstâncias.

Em bons restaurantes, ou em cruzeiros marítimos, por exemplo, vê-se facilmente um sem número de clientes comerem avidamente com um olho no prato e o outro na travessa. Mais: conversas correntes são comuns enquanto o alimento encontra-se à boca. E, para encerrar a questão com colher de ouro: as mãos comumente empunham o garfo e a faca ininterruptamente, qual um maestro que manuseia a sua batuta (no caso, são duas!). É um show malogrado, embora tais pessoas aparentem se sentir no ápice do luxo: “Gasto, logo abafo”. Fantasia pessoal?

Casas enormes são construídas. Extravagantes somas capitais são depositadas no alicerce das fantasias que anseiam, em tom desesperador, participar da nata da sociedade. Festas nababescas são realizadas como oportunidade de se exibir o poder através da hipnotizante obra. Muita cortesia é jogada aos participantes, tal como confetes e serpentinas que caem no salão dos carnavais. No entanto, é mera aparência, pois ao menor desagrado (causado na intimidade familiar, por exemplo), a irritação sobe e os palavrões descem aos degraus da grosseria, que se abafa, convenientemente, nos porões da hipocrisia social. Logo se vê que o festejo se foi e a quarta-feira de cinzas chegou...

Casamentos mirabolantes primam pelos luxuosos detalhes da cerimônia. Numerosa lista de convidados atesta a necessidade de se sentir importante diante da plateia, das luzes e da fama momentânea. Estruturas caras e cada vez mais fora do propósito matrimonial consomem o dinheiro presente e futuro. Mas, afinal, sonho é sonho! Será? O efeito posterior ao megaevento tem demonstrado o pesadelo a que se pode chegar. Semelhante ao amargo porre depois da doce bebedeira, o casamento se desfaz rápida e facilmente, e se não ocorre nesses moldes é porque, à exceção da doentia dependência emocional, a delicada questão financeira trava em razão dos brutais interesses próprios.

Encontramo-nos, pois, na era dos contrastes, na qual o dinheiro e a liberdade das ações levam a pessoa a provar o gosto do devaneio. Feito uma criança que consegue o primeiro doce, e, inebriada por ele, e sem qualquer traquejo para prová-lo, lambuza-se mais do que se delicia. Contudo, um bom banho a repara para que continue a sua jornada de aprendizagem. Para o adulto, entretanto, especialmente aquele que se julga superior (destaque-se o autoengano gerado pela condição financeira), os resultados são bem danosos, a lição não atinge a sua meta e a cegueira alia-se a novas travessuras que inevitavelmente trarão maior frustração e dor. Então, será que convém afirmar que a vida é injusta, ou as escolhas, carregadas de inconsciência e oposição ao que se pretende (e suas consequências), dizem respeito ao nível de desenvolvimento em que nos encontramos por hora?

baseado em: Armando Correa de Siqueira Neto.

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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Vida privada e ambiente de trabalho



Existem consequências legais sobre as condutas praticadas fora do ambiente e horário de trabalho? A resposta, a princípio, poderia ser um sonoro não. Efetivamente, não se misturariam as situações cotidianas vivenciadas pelo trabalhador.

A rigor, deveriam correr em paralelo, dada a separação que permeia a vida pessoal da vida profissional, onde o espaço-tempo profissional se apresenta como de “heterodisponibilidade”, ou seja, destinado à autoridade patronal, em razão dos poderes que esta detém de direcionar e disciplinar o empregado, derivados da subordinação jurídica da relação de trabalho.

Já o espaço-tempo extraprofissional se apresentaria como “autodisponibilidade”: para exercício de vontades e afazeres particulares e pessoais, garantidos pelos direitos à privacidade e intimidade próprios de cada cidadão.

Portanto, a separar essas duas vias de conduta social existiria uma cerca (intransponível) que impediria a irradiação de efeitos jurídicos da vida pessoal para a profissional. Essa resposta, por mais sedutora que possa à primeira vista se apresentar, além de incompleta, não se amolda às exigências sociais e jurídicas da modernidade.

A sociedade se mostra mais complexa e exigente. As instituições e relacionamentos que a compõem também. O físico Edward Lorenz, ao conceituar complexidade, explica que o todo é maior que a soma das partes, em que a interação entre os fatores envolve cada um dos entes em convívio. Ou, como assinala o professor lusitano João Leal Amado, “o dogma da separação radical entre vida profissional e vida pessoal não pode ser aceito, pois o homem não é um conglobamento de ilhas (a ‘ilha pessoal’, a ‘ilha profissional’, a ‘ilha conjugal’ etc.), não existem muros intransponíveis nesta matéria, pelo que o supramencionado corte absoluto entre vida pessoal e vida profissional é simplista, não resistindo ao confronto com a realidade”.

Vale lembrar que a visão de mundo mudou. Conceitos antes pétreos, como intimidade e privacidade, hoje são mais do que questionáveis e frágeis. Nesse sentido, aliás, o doutrinador Fabio Ulhoa é peremptório. Para ele, simplesmente “a privacidade acabou”.

E diz mais: “Câmaras de vídeo estão espalhadas por estacionamentos, lojas, bancos, edifícios, ruas, por todos os lugares. Sofisticados apetrechos eletrônicos gravam conversas à distância, dispensando a implantação de microfones no ambiente monitorado. Telefonemas e mensagens transmitidas pela internet são interceptados sem dificuldade. Já se organizam gigantescos bancos de dados reunindo simplesmente todas as informações existentes sobre todos nós. Nem mesmo nossos pensamentos e desejos íntimos parecem estar a salvo. Está em fase de finalização para lançamento no mercado a Epoc, uma máquina que lê pensamentos. Ainda é um tanto rude e sua eficácia depende, às vezes, de movimentos ‘interpretativos’ dos braços. Será inicialmente usada para entretenimento em jogos eletrônicos, mas, logo mais, virão o aperfeiçoamento e outros usos; nem meditando teremos sossego” (Folha de S.Paulo, 21.08.2008).

Como dizer ou imaginar, então, que inexistem influências ou efeitos (práticos e jurídicos) entre as vidas de cada ser humano? Ou mesmo como pensar em separá-las?

Luis Fernando Verissimo, inclusive, em inspirada crônica (“Gravando”, Estado de São Paulo, 13 de dezembro de 2009), fala da possibilidade de se contar toda uma vida apenas com as imagens que são captadas ao longo de uma existência. Toda uma vida registrada em tape. Desde o parto, passando pelo primeiro aniversário, festas de escola, acidentes de trânsito e até imagens recebendo maços de dinheiro... “O fato é que hoje vivemos sob a fiscalização de câmeras nos lugares mais inesperados, gravando o que fazemos, e até quem não tem culpa se sente constrangido. Você eu não sei, mas eu não faço mais caretas para o espelho em elevador vazio.” O mundo hoje está muito pequeno.

Daí porque mais do que atuais se encontram os ensinamentos de Max Weber sobre a ética da responsabilidade e a ética das convicções. Não há separação entre as duas éticas, mas, apenas distinção: a das convicções ajuíza as ações antes de sua vigência; a da responsabilidade julga as conseqüências do ato praticado.

No cotidiano do empregado elas não podem ser separadas. Há evidente entrelaçamento entre o teor (e prática) de convicções e atos praticados em cada espaço-tempo com as responsabilidades advindas deles. Os conceitos jurídicos, como função social ou responsabilidade social da empresa, trazem estreito ligamento entre pessoas e entidades, mas também porque o empregado não é um simples autômato, mas um cidadão com direitos e obrigações, entre elas a de espelho de imagem positiva da empresa para quem presta serviços.

Essa intersecção de fatos, atos e responsabilidades éticas faz parte da chamada “teoria dos efeitos reflexos”, onde a liberdade pessoal do trabalhador, a reserva da sua vida privada e o seu direito a não ser controlado “fora dos muros laborais” têm como contrapartida limitações a “excessos” que tragam reflexos negativos.

Denota-se, diante dessa nova realidade de convívio e vigilância a que todos nós estamos expostos, que não se pode mais falar ou aceitar como válido e incólume o princípio da irrelevância disciplinar de comportamento extraprofissional do trabalhador. Ao contrário, temos de ter em mente conceitos mais modernos como equilíbrio, razoabilidade, justa medida e proporcionalidade na análise e consideração de condutas da vida pessoal, perante seus desdobramentos na vida profissional, motivo por que políticas e regulamentos internos podem e devem servir como dique de contenção e orientação para ajustar o cotidiano laboral.
Um texto de Antonio Carlos Aguiar.

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Quem só espera dificilmente alcança



Não nos conhecemos! Ignoramo-nos a ponto de desejar coisas que não nos dizem respeito por considerável impressão distorcida. É o autoengano. Somos capazes de criar inúmeras ilusões das quais nos alimentamos para fugir à dor gerada pela realidade. Cremos no que imaginamos até se tornar uma verdade particular. Faz bem. Dá alívio. Mas não nos faz crescer. Traz frustração, raiva e desânimo. Logo, antes mesmo de se localizar em algum plano de crescimento, é preciso encontrar-se primeiramente. Ou seja, em razão de voltarmos excessivamente a nossa atenção ao nosso redor, bem pouco olhamos para a vida interior com a devida atenção.

Vale lembrar: faça como você quiser, porém o preço lhe será cobrado! É importante ter a liberdade de escolha (cuidado, pois, com as suas decisões!), mas é igualmente essencial (ainda que se tenha feito opções erradas) obter resultado àquilo que se escolheu. Do contrário, equivaleria dizer que, após árduo e prestimoso cuidado com o plantio, nenhuma colheita se poderia aguardar. Injusto, não?! Mas a resposta sempre chega: suficiente ou insuficiente, considerando-se o conhecimento e a experiência presentes em relação ao nível da qualidade resultante. Justo, não?!

Assim, depende do quanto você se conhece, para estabelecer o planejamento com os objetivos mais adequados, os quais poderão ser uma fonte constante de motivação, pois os motivos serão legítimos e farão sentido na hora de persegui-los, sobretudo quando for necessário persistir, haja vista existir um tempo para cada coisa. Quanto mais você se enxergar, tanto melhor será o direcionamento dos esforços para o crescimento e a autonomia a que se tem pleno direito.

Cada novo passo dado rumo à evolução pessoal fará aumentar o desejo de romper com o atraso ao qual se vive preso, fruto da respectiva falta de visão. Eis o preço: Enquanto o ser humano não alcançar a mínima consciência de que ele próprio se limita e, portanto, vive sob o manto da mediocridade autoimposta, pouquíssimo mudará na sua vida. Seria ilusão esperar algo diferente, não acha? E injusto também!

Contudo, é devido antecipar que, ao entrar em contato consigo mesmo, de modo honesto, profundo e frequente, a verdade emergirá dolorosa, causando mal-estar. Mas é por causa de tal incômodo que nos mexemos na direção do aperfeiçoamento, e que foi justamente a tão confortável quão prejudicial acomodação que nos amarrou à falta de visão sobre nós mesmos e às suas típicas decorrências.

Então, o que você pretende fazer? Só esperar? Se localizar superficialmente em um dado plano de desenvolvimento sem considerar a fundamental autorrevisão? Ou empreender uma ousada e aflitiva (embora crucial) autoavaliação, e em seguida traçar novo e sólido planejamento para o desenvolvimento pessoal? Um novo ano está chegando e, é hora de nos planejarmos.


Baseado em: Armando Correa de Siqueira Neto, Psicólogo, Escritor e Jornalista.

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domingo, 27 de dezembro de 2009

Por que os imigrantes preferem os EUA?



Quando o sul-coreano Joshua Lee chegou aos Estados Unidos, sua primeira impressão foi o excesso de riqueza. A comida era abundante, a energia barata e as casas enormes. No entanto, este não é o motivo que o fez adotar o país como seu novo lar. Para Lee e outros milhões de imigrantes, os Estados Unidos são uma nação que permite que se viva de acordo com sua própria cultura enquanto se adota aspectos interessantes da cultura nativa.


Nos Estados Unidos é possível para os seus 38 milhões de imigrantes, bem acima da média para países desenvolvidos, arranjarem seu nicho sem dificuldades. Enquanto em outros países as leis costumam ser as mesmas independente do estado, nos Estados Unidos, os 50 estados que formam o país tem legislações que podem ser radicalmente diferentes. Assim, um imigrante britânico entusiasta de caça à raposas, prática banida em toda Grã-Bretanha, pode praticar seu esporte à vontade em diversos estados norte-americanos.
Ou seja, os cidadãos norte-americanos podem escolher sob quais leis desejam viver. O imigrante que não quiser pagar altos impostos pode viver no Texas. Quem desejar boas escolas pode ir para Portland. Os mais conservadores, que não desejam álcool ou sexo em excesso, podem viver no estado de Utah.



Liberdade intelectual também é incentivada, com milhares de institutos organizados para defender os mais diferentes pontos de vista. Apesar do senso comum, o país não é intolerante com pessoas de outras religiões. Cristão e judeus muitas vezes decidem migrar para os Estados Unidos porque sabem que não vão sofrer preconceito ou perseguição como acontece no Oriente Médio, por exemplo.
O resultado é que o país atrai talentos de outras nações. Políticos norte-americanos, no entanto, não parecem ver o lado bom da imigração. Eles acreditam que o país está perdendo sua capacidade de absorver pessoas de outros países, o que provavelmente não é verdade. As reclamações são antigas. Benjamin Franklin já dizia que o país nunca conseguiria assimilar os imigrantes alemães. Hoje, os Estados Unidos contam com 50 milhões de descendentes de alemães, sendo que quase nenhum fala a língua da velha pátria.



Opinão comum sobre o assunto:
A resposta a essa indagação poderia ser dada com uma palavra: liberdade. O imigrante tem a liberdade de continuar usando sua própria língua, de praticar a religião que quiser e de trabalhar e empreender. É em busca disso que vêm os imigrantes.
Fonte:economist.

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sábado, 26 de dezembro de 2009

A TEORIA DA MOELA



Na família estruturada sob o domínio patriarcal, a moela, iguaria unitária e diminuta de um frango, cabia ao provedor. Também a ele era destinada a primazia na escolha do corte de sua preferência. Aos miúdos, digo, aos filhos, eram franqueados os demais cortes da ave, mais ou menos nobres, dependendo do gosto do pai. Na época, o homem gozava de prestígio, ou de poder, para ditar regras que lhe favorecessem. E ai de quem questionasse tais regras. Eu sei porque fui criança nesse tempo.

Duas ou três décadas se passaram e a figura do homem provedor se tornou tão rara quanto galinheiro no pátio de casa. O número de filhos diminuiu radicalmente e as mulheres ganharam o mercado de trabalho. Um cenário tão modificado exigiu novos papéis e, com eles, novas regras. Quando o homem acordou, a moela já estava no prato do filho – ou dividida, em caso de mais de um bacuri. Agora, também, as crianças escolhem os pedaços do frango que mais lhes agradam. E ai de quem as desfavoreça. Eu sei porque sou pai nesse tempo.

Você já se deu conta de onde quero chegar: sou de uma geração desmoelada. Não comemos a moela quando éramos filhos e não estamos comendo quando somos pais. Para piorar, nada indica que comeremos quando chegarem os netos – os avós são uns derretidos. Mas não se compadeça, porque isso não é uma queixa. É uma triste constatação, carregada de implicações simbólicas. A novidade é que me tornei um revolucionário.

E contra o que luto? Contra leituras mal feitas de manuais pedagógicos e toneladas de culpa por pai e mãe estarem absorvidos pelo frenético mercado de trabalho. Criaram-se alguns monstros. Meninos e meninas de classe média cobertos de mimo e proteção; isentos de limites; imunes à frustração; devoradores de moelas. Hoje, pais são amigos e confidentes. Há liberdade que beira o acobertamento. No melhor dos mundos, os rebentos desaprenderam a questionar – questionar quem, se todos estão a meu favor? Assim, sequer saem de casa.

Aos dezessete anos eu já sonhava em morar sozinho. Tudo o que eu queria era um JK mal mobiliado e uma moela no prato. Azar que eu tivesse que prepará-la e lavar a louça depois – os ganhos compensavam o esforço. Tive pais dedicadíssimos e que pagaram aos filhos escola e médico particulares, mas nem em sonho nos deixaram (os filhos) mandar em casa. Mesmo sem uma cobrança explícita, estava claro que não podíamos perder o ano na escola ou sair e chegar em casa quando bem quiséssemos. Para se governar, era preciso, antes, se sustentar.

Sim! É isso! Para o azar – sorte? – dos nossos filhos, tomamos uma decisão revolucionária lá em casa: passem a moela para cá! Vamos dividi-la entre o casal provedor e saborear na frente das crianças. Horror, horror! Eles precisam crescer sabendo que há algo para perder e para conquistar. A paternidade já nos faz abrir mão de coisas demais, sem medir sacrifício. Não parece justo perder o controle da situação – sem falar de alguns bons prazeres. Quem quiser nos acompanhar nessa trincheira, não tire o olho da moela!
Rubem Penz.

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SOMOS O QUE ESCUTAMOS


Bebida é água
Comida é pasto
Você tem sede de quê?
Você tem fome de quê?

Antunes, Fromer & Brito


Pergunte a um nutricionista o que aconteceria com uma criança ou adolescente cuja dieta fosse resumida a macarrão instantâneo. Mesmo sem ser um estudioso da matéria, posso adiantar com segurança que o jovem teria seu desenvolvimento fisiológico severamente prejudicado, apesar de ele não morrer de fome. Aliás, talvez até engordasse.

Agora, pergunte a um músico (ou poeta) o que aconteceria com uma geração inteira cujas obras prediletas cozinhassem em três minutos, pudessem ser engolidas sem mastigar e tivessem todas o mesmo gosto. E, depois de exigir esforço digestivo nenhum, elas quase nada nutrissem. Pois lamento informar que essa turma de ouvidos e consciências repletos de vento engorda entre nós.

A comparação entre a música popular que roda nos pratos (essa é velha) com o macarrão instantâneo pode até parecer forçada, mas é lamentavelmente correta. O que os produtores têm feito de melhor nos últimos anos é garimpar talentos submissos, moldar, embalar e rotular: sabor poprock, sabor sertanejo, sabor pagode, reagge, funck, melancia. Então, a base pálida é temperada despejando o envelope que contém figurino descolado, coreografia sensual e assessoria de imprensa com seus factóides pontuais.

Se não bastasse, depois de alcançada a fervura popular, artista e fã saem convencidos de que sucesso é sinônimo de qualidade na mesma medida em que barriga cheia é igual à nutrição. E que muitos anos de estudo ou aprimoramento formal é mera perda de tempo: todos querem consumir o que se engole mais rápido, surdos para as nuances. Cardápio turbinado pela internet, onde celebridades nascem, se reproduzem e morrem na velocidade de uma Drosophila Melanogaster.

Porém, atirar nas largas costas do mercado a culpa da sofrível condição da música popular brasileira (MPB), cuja perda de status é tão grande que ninguém mais se orgulha de pertencer à sigla, é uma redução conveniente. Pode se dizer que miojos melódicos estão cada vez mais presentes nas prateleiras das rádios e demais veículos de comunicação. (Em algum momento foi diferente?) Apesar disso, obras eruditas, instrumentais, folclóricas, vanguardistas etc, bem ou mal, também estão expostas. E melhor estarão posicionadas quanto mais forem consumidas.

Logo, entre outras, é obrigação dos pais educar o paladar musical dos filhos, ao invés de adotar a confortável tese de que não adianta insistir
eles só gostam de canções de massinha, mesmo. O caso ficará mais grave quando eles chegarem na adolescência: passar pela mais determinante fase de crescimento intelectual e afetivo sem ter a mínima profundidade musical vai gerar, para sempre, uma perda de vitaminas e sais minerais indispensáveis para o desenvolvimento do senso crítico. Sim, pois é na juventude que nossa bagagem estética é consolidada.

Bom, empurrar doses elevadas de jazz goela abaixo da meninada não será solução. Porém, se um jovem chegar até os vinte anos sem ouvir qualquer notícia de Pixinguinha, ou Noel Rosa, Villa Lobos, Cartola, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Chico Buarque, Egberto Gismonti, Milton Nascimento etc (a lista é grande), que não coloquem a culpa no KLB, no Latino ou na Cláudia Leite (outra lista enorme). Estes últimos entregam o que prometem e, com certeza, matam a fome. O problema é: nossos jovens devem ter fome de quê? Afinal, serão, até a última migalha, fruto do que escutarem.

Rubem Penz.

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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

PARÁBOLA HIPERBÓLICA



O líder do governo e o líder da oposição estão caminhando pelo corredor do plenário da Câmara quando tropeçam em uma lâmpada maravilhosa. O primeiro acusa o oposicionista de tentar derrubar o governo. O segundo aponta falhas na coleta de lixo. Ambos, porém, seguram a lâmpada e a puxam para si. Neste jogo de forças terminam por esfregá-la nas mangas dos paletós, evocando um gênio que estava adormecido desde tempos imemoráveis.

O gênio anuncia os três desejos de praxe. Como não faz idéia de quem o libertou, pede para que se entendam com relação aos pedidos. O líder do governo reivindica para si o monopólio dos desejos, uma vez que, de acordo com a própria oposição, a coleta do “lixo” é de sua responsabilidade. O líder da oposição apresenta outra tese: se houve tentativa de derrubada do governo com a lâmpada, ela e seus pedidos pertencem à oposição. O gênio aparta mútuas agressões. Os líderes concluem que o gênio postado ali, entre eles, só atrapalha. Mandam e puf: lá vai o gênio para uma poltrona da galeria. (cumpriu o primeiro pedido)

O líder do governo sobe ao púlpito para um pronunciamento. Acusa o líder da oposição de barrar os atos do Poder Executivo, que no momento conta com a ferramenta mais eficaz de implementação do bem-estar nacional: uma lâmpada encantada e três desejos. Projeta um país sem miséria, sem fome, sem analfabetismo. Louva a saúde pública que nascerá dos novos tempos; a infraestrutura, o saneamento básico e o sistema financeiro equilibrado. Diz que não admite o tom oportunista e ímpeto destruidor da oposição. Desce ovacionado pelos partidos da base aliada.

Quando chega na tribuna para suas palavras, o líder da oposição alerta para o risco que corre a democracia com o uso eleitoreiro da magia. Pergunta se é seguro franquear unicamente ao governo o poder libertado da lâmpada – uma manobra, bem ou mal, conjunta. Além do mais, como confiar nas promessas de quem faz tudo o que combatia quando as posições estavam invertidas? Encerrando o pronunciamento, o líder da oposição se dirige ao líder do governo dizendo que age igual ao governo no tempo em que era oposição, não podendo, deste modo, ser condenado por isso. O gênio, mesmo sendo um gênio, não consegue acompanhar a lógica ou os aplausos.

Dezenas de parlamentares de diversos partidos se inscrevem para discursar, cada um defendendo o legítimo direito de seu grupo usar o poder de modo arbitrário. Por duas vezes o gênio levanta a mão, alegando ter a saída para o impasse. Em uma, pedem para que se cale, pois é vetada a manifestação das galerias. (ele atende ao segundo pedido) Na outra, solicitam que se retire, ou chamarão a segurança. (enfim, o terceiro pedido).

O gênio retorna para a lâmpada convicto de que as instituições democráticas do país estão bastante sólidas. O problema continuará sendo a distribuição de renda, a saúde pública, educação, infraestrutura etc. Sem que ninguém perceba, a senhora do cafezinho recolhe a lâmpada junto com jarros de água. No dia seguinte, os embates no Plenário da Câmara ganham as manchetes dos jornais. E, perdida em notinha de pé de página, sai a notícia de que a Mega-Sena foi sorteada para a Capital Federal.
Rubem Penz.


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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Não vê quem não quer!!!

Às vezes acho que a imprensa sofre de autismo.

É impressionante que, com tanta coisa acontecendo no país, ela fique circunscrita a uma meia dúzia de pautas, sempre as mesmas, sempre olhando o mundo com os olhos de alguém que se recusa a ver o que se passa além dos muros de seu castelo.



É o caso, por exemplo, da cobertura que se faz das viagens presidenciais. Os repórteres vão cobrir não aquilo que o presidente vai fazer - inaugurar uma obra, participar de uma reunião, quase sempre -, mas observar se ele comete alguma gafe, ou se aceita falar sobre algum tema que esteja no noticiário, para estimular uma polêmica com alguém da oposição.



O tom de fofoca domina essas entrevistas. "Presidente, o que o senhor achou do PIB?", "Presidente, o que o sr. achou das imagens do governador Arruda que a TV mostrou?" - são esses os tipos das perguntas que se fazem, invariavelmente.

Não estou, de modo algum, defendendo algum tipo de jornalismo chapa branca, que dê destaque apenas ao pronunciamento oficial. Gostaria simplesmente que ele fosse contextualizado. Lula esteve no Maranhão, uma das regiões mais miseráveis do país, falou que ninguém investiu tanto quanto o atual governo no Nordeste, prometeu levar mais saneamento básico e moradias para lá - e nenhum repórter foi ver como são as condições de vida do povo de lá, foi checar se esses investimentos são mesmo para valer, foi conversar com as pessoas para saber por que elas veem em Lula um novo "Padim Ciço".



Acho que o jornalismo verdadeiro é isso: levar para os leitores as diferentes visões sobre um assunto, mostrar o que está por trás do que a gente normalmente vê, procurar retratar de modo o mais fiel possível a realidade, sem preconceitos, mas com a convicção de que, acima de tudo, esse é um trabalho que deve ser feito para dignificar a condição humana, e não rebaixá-la.

Carlos Motta.


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